“As pessoas não
conversam sobre nada (...) O que mais falam é de marcas de carros ou roupas ou
piscinas (...) todos dizem a mesma coisa
e ninguém diz nada diferente de ninguém”
Sempre fico
impressionada com estes autores visionários. Ray Bradbury escreveu Fahreinheit 451 nos anos cinquenta nos
Estados Unidos, mas as reflexões na história não poderiam ser mais atuais. Ele
apresenta um parâmetro entre a televisão como algo que domina e ilude a pessoa
fazendo-a crer ser dona de si própria em oposição ao livro que faz a pessoa
refletir e agir por conta própria. É claro que existem bons programas na tv,
como também há livros de conteúdo vazio que fazem até muito sucesso. Mas no
caso o autor se volta para os bons livros e os programas de tv sem conteúdo e
apelativos que existem aos montes na
televisão.
Na história
Montag é um bombeiro. Mas como na época em que ele vive as casas são a prova de
fogo, a função dos bombeiros é diferente: o objetivo é queimar livros. Muitos
inclusive já foram queimados, mas há aqueles que resistem em manter os livros,
em lê-los, lidar com estes. E essas pessoas também são perseguidas. Queimar livros
é sempre sinal de domínio de uns poucos sobre muitos. O interessante é que o
autor chama atenção para o fato de que as próprias pessoas preferem não ler.
Não gostam da leitura, não a enxergam como algo que vai abrir seus caminhos e
sim como algo pouco prazeroso, trabalhoso e chato e por isso elas próprias se permitem dominar
quando não querem raciocinar e preferem se deixar levar pelo conteúdo vazio de
coisas que – não – acontecem na tv.
Alguma semelhança com as preferências de hoje em dia?
A esposa de Montag
é um desses exemplos que está sempre envolvida com a “família” que aparece na
tv, que lhe diz o que fazer, que lhe dá conselhos. O objetivo é ter em toda
parte da casa grandes telões vigiando-os e com quem ela pode ficar, sem
precisar lidar com o real.
Em oposição a
ela está Clarisse. Ela e a família são perseguidas por lidarem com os livros.
Em um encontro com ela, Montag começa a repensar a vida e a se interessar pelo
que pode estar dentro dos livros. Outros pensadores que aparecem no decorrer da
história, o alertam que dentro do livro não há nada: a mente de quem lê é que
junta informações e dá sentido às leituras. Mas o conteúdo de um livro é tão
importante que estes pensadores o decoram antes do livro ser queimado para não
se perder e poder passar à geração seguinte e dar a esta a oportunidade de
refletir.
Uma das
melhores partes é quando o chefe do departamento de Montag explica como surgiu
essa profissão de queimadores de livros. De como a educação é negligenciada e a
língua é desprezada por seus próprios falantes. E mostra que a tv serve de companhia e permite que as
pessoas se sintam felizes de maneira iludida, enquanto os livros as deixam
tristes porque a chamam para a realidade, porque lhe permitem reflexões sobre a
vida e necessidade de mudar o que não está bom. O conhecimento evita o vazio de
conversas banais e o domínio dos poderosos. Um livro para pensar...
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